Pesquisa

PROJETO CARTOGRAFIAS TERRITORIAIS DE REDES DA CULTURA

Introdução

Cartografias Territoriais de Redes Colaborativas da Cultura abriga a produção e comunicação do conhecimento, cuja finalidade é contribuir para a visibilidade de saberes e fazeres da arte e da cultura na Cidade de Niterói como linha de base para políticas públicas de democratização da produção e fruição das culturas.
O reconhecimento da pluralidade de criadores, linguagens estéticas e práticas culturais da cidade define o percurso de elaboração de cartografias sensíveis de saberes e fazeres culturais, tendo como especial destaque os sujeitos em seus territórios de criação, como subsídios para afirmação e ampliação de redes colaborativas de arte e cultura, tendo como protagonistas os próprios criadores identificados.
O projeto dedica especial atenção à cultura como uma experiência concreto-simbólica que implica reconhecer a dinâmica das apresentações e representações de crenças, práticas, técnicas, bens e valores criados e corporificados por / em indivíduos e coletivos sociais em seus territórios de existência.
Nessa perspectiva, convidamos o conceito de território para a construção de nosso trabalho, uma vez que, para além de abrigar recursos e objetos por meio dos quais inventamos e experimentamos a vida em sociedade, é também o território uma invenção simbólica. Como relembra Milton Santos: “o território é o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida” (SANTOS, 2002, p. 10) .
No território estão as invenções e marcações de signos, de memórias e de valores tangíveis e intangíveis que encarnam o sentido da cultura em nossas vidas. É justamente por meio da apropriação do território que se geram os usos culturais e os estilos estéticos, combinando modos de fazer e criatividades do saber em inscrições territoriais socialmente construídas .
Desse modo, o território guarda repertórios simbólicos que contribuem para exteriorizar o significado da cultura como dispositivo de visibilidade de sujeitos de direitos. É no território que a cultura ganha essa dimensão de imaginário compartilhado, traduzindo as possibilidades de sua apropriação como conceito e sua visibilidade como prática social de cidadania.
Chamamos atenção para a potência das redes colaborativas para invenção de uma cultura criativa da economia. A estratégia do percurso aludida ganhará sua materialidade com o estudo sistemático e articulado de atores (indivíduos, organizações e coletivos), linguagens e estilos culturais em sua localização/ distribuição urbana de produção e fruição associada às condições simbólicas e materiais propriamente ditas do criar e fazer cultura com diferentes densidades de interações de práticas e compartilhamentos solidários.
É preciso acrescentar a pandemia global do coronavírus 19, e seus graves impactos no país e na cidade de Niterói, colocou novos desafios conceituais e práticos aos já se faziam presentes para a execução do projeto. Diante dos agravos de contaminação e da letalidade da pandemia, nos vimos obrigados a fazer adaptações e mudanças significativas nas metodologias de trabalho, substituindo ações presenciais pelo uso de meios digitais para a realização de entrevistas, pesquisas, seminários e cursos. Apesar das limitações impostas, contamos sempre com a generosa contribuição das organizações e coletivos de arte e cultura, assim como dos parceiros institucionais, sem os quais não seria possível a realização do projeto. Registramos, aqui, o nosso imenso agradecimento a todos eles e a todas elas.

Justificativa

Segundo o Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC), o campo da cultura emprega 1,9 milhões de pessoas em 325 mil empresas ou organizações no país. Todavia, é fortemente marcada pela informalidade e efemeridade das ações. Entre 2014 e 2018 o percentual de trabalhadores com contratos formais e regulares foi reduzido de 45% para 34,6%.
Embora a cultura tenha maior relevância social e econômica, observamos uma tendência declinante no aporte dos recursos públicos e privados, agravados com redução do Ministério da Cultura à condição de Secretaria e, no momento atual, pela tragédia da pandemia do coronavírus que impôs restrições ao funcionamento de equipamentos públicos e privados, assim como de atividades artísticas e culturais públicas.
O contexto regressivo mais amplo da cultura traz maior relevância para Niterói, uma vez que o Município tem sido um destaque positivo na atuação da gestão pública da cultura, especialmente com a mediações políticas e institucionais da Secretaria das Culturas e da Fundação de Arte de Niterói, tanto no que diz respeito à expansão de recursos para funcionamento de equipamentos públicos para uma agenda de atividades plurais – Teatro Municipal, Teatro Popular, Museu de Arte Contemporânea; Museu Janete Costa, Reserva Cultural (complexo de cinemas), entre outros – como também no que diz respeito ao financiamento de projetos e empreendimentos de organizações, coletivos e autores individuais, notadamente através de editais destinados a diversas linguagens estéticas e ações culturais. Arte na Rua, Pontões e Pontos Municipais de Cultura, Ações Locais, Fomento ao Audiovisual e Fomento às Artes, são alguns exemplos significativos de ações de descentralização e democratização do acesso aos recursos de produção cultural. Acrescente-se, ainda, o imenso empenho da abertura de editais de fomento com recursos próprios e apoio direto por meio da Lei Aldir Blanc face aos agravos da Pandemia do Coronavírus.
Embora a política de cultura em Niterói mereça o seu devido mérito, há lacunas significativas que precisam ser superadas, dentre elas destacamos a necessária política de sustentabilidade de organizações, coletivos e indivíduos criadores de arte e de cultura, gravemente explicitado com a suspensão das atividades de arte e cultura durante a pandemia do coronavírus. O desafio maior abraçado pelo nosso projeto é fazer do campo da cultura uma experiência autônoma e coletiva que, sem abrir mão dos recursos públicos, possa construir-se de modo colaborativo em termos de recursos de financiamento, de pessoas envolvidas, de tecnologias compartilhadas e de incidência pública no território e na cidade. Estamos, em termos mais gerais, chamando atenção para a potência de redes colaborativas de criação, comunicação e fruição cultural como um modo de relações horizontais de compartilhamento de valores, objetivos, ações e resultados por parte de sujeitos, organizações e coletivos em interações territoriais múltiplas.

Relevância

A proposta de rede colaborativa como possibilidade de atuação de sujeitos, organizações e coletivos não é uma novidade absoluta, uma vez que já vem se colocando em prática, com maior ou menor densidade, diante das imperiosas mudanças no cenário sociocultural e socioeconômico da sociedade, sobretudo com as restrições de financiamento público e a recente crise sanitária em seus impactos sociais e econômicos.
Nossa proposta considerou investigar possibilidades, registrar vivências e difundir proposições de ampliação e consolidação de experiências, inclusive no sentido de orientar políticas públicas inovadoras de cultura. Destacamos também que nosso projeto está em consonância plena com os objetivos da Lei Municipal de Cultura Viva de Niterói, aprovada em 25 de junho de 2018, e se coloca como uma mediação para realização plena dos mesmos, sobretudo dos seguintes: i) estimular o protagonismo social na elaboração e na gestão das políticas públicas da cultura; ii) consolidar os princípios da participação social nas políticas culturais; iii) garantir o respeito à cultura como direito de cidadania e à diversidade cultural como expressão simbólica, e como atividade econômica; iv) promover o acesso aos meios de fruição, produção e difusão cultural; v) potencializar iniciativas culturais, visando à construção de novos valores de cooperação e solidariedade, e ampliar instrumentos de educação.
A relevância do projeto também pode ser observada em nossa contribuição para processos e conteúdos formativos no âmbito da Política Pública e Governança Territorial da Cultura, uma vez que as Redes Colaborativas também exigem a produção do conhecimento, criação de metodologias e operação de tecnologias que contribuam para formação, criação, gestão e desenvolvimento do trabalho comum e compartilhado.
Para o nosso projeto, o mais relevante são os sujeitos na construção plural da cultura e suas possibilidades de compartilhamento como política pública. Nesse sentido, nossa proposta envolve o exercício de compreensão e reconhecimento no que diz respeito às potências e aos atos envolvendo indivíduos, organizações e coletivos em seus territórios de atuação para a construção de políticas de redes colaborativas no campo cultura na Cidade de Niterói, com as seguintes vertentes de análise:
(a) o reconhecimento de experiências sensíveis que configuram repertórios simbólicos e materiais da cultura impressos no território;
(b) a identificação qualitativa de indivíduos, organizações e coletivos com agenciamento de produção, comunicação e fruição;
(c) o registro de territorialidades como abrigo e recurso de saberes e fazeres artísticos e culturais;
d) as articulações instituintes de compartilhamentos de processos, bens e serviços culturais; e,
e) o uso de tecnologias digitais para o exercício compartilhado de criação, produção e comunicação de cultura e arte.
Entendemos, por outro lado, que o município é a esfera estratégica e privilegiada para efetivação de políticas públicas, uma vez que é neste território institucional que se dão as práticas culturais e estas se traduzem como diálogos dos seus autores com a cidade.

Objetivos

Projeto Cartografias Territoriais de Redes Colaborativas possui como seu objetivo geral o estudo sistemático de saberes e fazeres da cultura em suas potências e atos de criação de redes colaborativas na cidade de Niterói, tendo em vista a elaboração de políticas públicas de promoção de expressões simbólicas plurais associada à sustentabilidade econômica de atividades de produção e comunicação da cultura. Como objetivos específicos enumeramos:
1. mapeamento inventariante de organizações, coletivos e indivíduos envolvidos com a criação propriamente dita da cultura e da arte, considerando suas linguagens e estilos, modos de criação, condições de sustentabilidade, acesso aos fomentos públicos e privados, parcerias construídas e relação com público em seus territórios de ação e no conjunto da cidade;
2. Contribuição para formação participativa acadêmica e técnica de criadores da cultura, especialmente jovens de territórios populares, como formuladores de ações e políticas em redes colaborativas.
3. Criação de ambiências digitais para o compartilhamento de experiências, articulação de parcerias, oferta de serviços, inovação de práticas e tecnologias, otimização de recursos e comunicação de eventos;
4. Elaboração de instrumentos cartográficos de caráter participativo para gerar reconhecimentos e comunicação entre os criadores da cultura e com o público;
5. Promoção da difusão de experiências colaborativas de saberes e fazeres de arte e cultura em publicações de circulação local, regional e nacional.
6. Contribuição para formulação de políticas públicas de cultura para promoção e sustentabilidade de redes colaborativas de cultura.

Metodologia

A inspiração metodológica do nosso projeto advém da importante contribuição de F. Perrox (1967) para os estudos de filiére produtivas da indústria. É bem verdade que os estudos de filiéres abriram a possibilidade de se pensar cadeias produtivas em aglomerações industriais, sobretudo originada pelas correntes anglo-saxônias (inglesa e americana) de leitura orientada para especialização técnica da produção e insumos de tecnologias, bens e serviços entre firmas empresariais nos quadros de suas estratégias de mercado.
Entretanto, para nós, a filiér nos inspira a pensar em redes como processos sociais, cognitivos, estéticos, técnicos e políticos articulados que originam ativos territoriais complexos. Explica-se, portanto, a escolha de redes colaborativas em perspectiva territorial como ponto de partida e de chegada do projeto.
Para construir as mediações necessárias entre partidas e chegadas, o projeto tem como proposta o desenvolvimento de metodologias participativas e inovadoras de pesquisa, formação e extensão, tendo como seus atores principais os próprios criadores locais de arte e cultura, assim como contribuir em processos formativos de mobilização, governança e comunicação de redes colaborativas de cultura.
A pesquisa se origina da realização de entrevistas semiestruturadas para identificação de práticas artísticas e culturais, definidas em classificações de grandes grupos de registro: música; artes cênicas (dança, teatro, produção de cenários); artes visuais (fotografia, escultura, vídeo, desenho, gravura); cultura popular (artesanato, culinária, capoeira); audiovisual (cinema, vídeo, cineclube); literatura (poesia, cordel, romance, novela); esporte; moda; atividades formativas; grafite; espaços de sociabilidade e cultura (restaurantes, bares, lan houses, praças).
Cabe salientar, entretanto, que a ordenação das atividades em grandes grupos não se limita a identificações específicas em cada expressão artística e cultural presente em estudo, também inclui ações no campo individual e de grupos sem formalização institucional. O instrumento de pesquisa, além de localizar autores e territórios de realização de arte e cultura, também abriga itens das condições de produção, modo de organização, recursos de financiamento, público envolvido, parcerias colaborativas e inserção no território e no conjunto da cidade das ações propriamente ditas.
A proposta é construir um quadro amplo de informações para a análise de situação da produção artística e cultural associado ao mapeamento de registro de atividades e seus autores em redes de saberes e fazeres de cultura. Privilegiamos, como primeiros interlocutores, as organizações participantes dos Editais Pontos e Pontões, sendo que estas organizações precisavam atender a critérios de formalidade institucionais e tempo de atuação por mais de dois anos consecutivos. Elas são as linhas de base de alcance de organizações e coletivos e, a partir delas, com o emprego da snowball sampling − técnica de amostragem não probabilística onde os indivíduos selecionados indicam/ convidam novos participantes – ampliar grupo de entrevistados. O mesmo procedimento técnico é utilizado em relação ao alcance de coletivos e indivíduos, uma vez que os primeiros entrevistados foram os participantes do Edital Ações Locais.
Desse modo, a construção ampliada de entrevistados alcança representatividade significativa de autores por linguagem, em territórios de atuação e na cidade. Os recortes de referência inicial acompanham a divisão da cidade em regiões de administração (Praias de Baía; Zona Norte, Pendotiba, Oceânica e Leste), sobretudo para balizar a representatividade dos participantes e, partir destas, outros níveis complementares de análise são acionados, envolvendo da escala do território à escala da cidade.

Produtos

Como resultados pretende-se: 1. Relatório de Pesquisa. Documento técnico contendo a identificação e análise das organizações, coletivos e indivíduos investigados na pesquisa inventariante; 2. Banco de Informações Colaborativas. Produto técnico contendo dados quantitativos e qualitativos sistematizados; descrição das atividades de organizações, coletivos e indivíduos; ferramentas de busca de parcerias; instrumentos de elaboração e governança de projetos em redes; colaborativas; cadastro expandido de organizações, coletivos e indivíduos do campo da arte e da cultura ; 3. Cartografias Territoriais de Arte e Cultura em Niterói;4. Realização de Curso de Formação dedicado à Elaboração, Gestão e Comunicação de Projetos Culturais em Redes Colaborativas; 5. Portal Digital contendo as Informações do Projeto, Produtos Técnicos, Acervo de Publicações e Documentos de Pesquisa; Cartografias das Redes Colaborativas – como uma contribuição para visibilidade da atuação de grupos e coletivos de arte e cultura de Niterói.

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